domingo, 17 de julho de 2016

Tudo é quase pouco...

João Wagner Galuzio ou, Bento Bruder.

Brotou na serra, essa nascente quente, que em seu caminho 
vai rasgando a terra, até onde o sol acaba por abençoar.

A intensidade da suave delícia desse amor 
contagia até quem vive da saudade da paixão de outrora.
A energia poderosa do homem generoso a faz sonhar;

Sonhadora, sua cumplicidade inocente tem a malícia
saborosa de ser simples, com calor;
Ah, tudo é quase pouco, perto desse amor. 

Brotou na serra, essa nascente quente, que em seu caminho 
vai rasgando a terra, até onde o sol acaba por abençoar.
Ah, tudo é quase pouco, perto desse amor. 




Alex e Thais, estes versos escrevi pensando em vocês... 
Obrigado por esta oportunidade espero que possam curtir... 
Bento....

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A dama e o vagabundo no parque do pau podre.


João Wagner Galuzio

Um dos endereços mais festejados de São Paulo, o parque do pau podre está localizado entre terras altas como o Planalto Paulista e o Paraíso e recebe grande parte das águas fluviais ou de monções destes lugares. Em tempo não muito longínquo, antes da vertiginosa urbanização e consequente saneamento básico, tinha um solo especialmente úmido –e fértil- até alagadiço, onde a madeira restava podre por que encharcada.

Os índios tupis em sua sabedoria natural apelidaram o lugar de “ypira-ouêra” hoje Ibirapuera, onde está o parque de mesmo nome. O parque, em sua inauguração, nos idos de 1954 por ocasião do IV Centenário da cidade, recebeu instalações de Niemeyer que atestavam a sua nova vocação como espaço de cultura e lazer, chamado por muitos de “praia do paulistano”. Cheio de cantos esconde encantos improváveis com sua fauna muito peculiar.

Bem cedo se podem encontrar cobras e lagartos, esquilos e gambas buscando amparo em seus soturnos esconderijos, muito próximos de corredores e caminhantes matinais. À tarde pode-se ouvir o zunido de morcegos voando baixo devorando quilos de insetos perto de postes iluminados tão atraentes para os minúsculos insetos.

Ao longo do dia podemos nos divertir oferecendo milho ou quirera aos gansos e pombos. Os peixes, aos milhares, como que desconfiados são muito arredios, sabidos que são da presença de paturis famintos que se fartam e se lambuzam às suas custas. Neste zoológico aberto e dinâmico encontram-se muitos gatos, quase todos pretos, muito bem nutridos e uns poucos cães vira-latas. É aqui que a história ganha contornos mais interessante.

Estava eu lá caminhando forte e afoito buscando novas trilhas para amenizar os vários milhares de metros necessários de todo dia, quando levei um tremendo susto. Ali como quem vai sair para a passarela Ciccilo Matarazzo, logo depois da Praça do Leão, após uma pequena ponte, dobrei à esquerda por um pequeno atalho entre mato ainda orvalhado de calmas folhas altas e largas que bocejavam ao calor gostoso do sol tímido da manha. Bastante concentrado vi e ouvi um rápido e intenso farfalhar de algumas folhas como se uma foice invisível rasteasse violentamente onde tudo mais em volta era silêncio.

Meu coração disparou em centésimos de segundo e, embriagado de Adrenalina, antes que se completasse um novo segundo após este relâmpago que dobrava folhas por onde e enquanto fugia percebi a figura de um cão de magro, de tamanho médio, quase esguio como um galgo, evidentemente saudável que me olhava entre feroz e assustado. Antes que pudesse dar mais um passo e de completar outro segundo pude ver outro animal também sem raça definida, mas parecido com o primeiro.

Percebi logo que meu caminho alternativo revelou-se uma ameaça, uma invasão àquele reduto calmo destes bichos. Tratei de sair logo dali pensando em não provocar um ataque e a completar, em minha mente, o quadro que o episódio configurava. O segundo cachorro era na verdade uma fêmea que, prenha, descansava ao lado de um tronco numa pequena clareira.

A imagem da fábula, imortalizada por Walt Disney (A dama e o vagabundo) em uma de suas obras-primas espocou de forma intensa em minha mente. “-Estavam ali na minha frente, A dama e o vagabundo” pensei. Perdidos e livres, cumplices e companheiros. O olhar que inicialmente achava assustado agora ganhava novo significado, parecia-me suplicar que mantivesse distância. Ainda posso ver seus olhos negros aflitos. O cão pôs-se entre nós, eu e a pequena mamãe, fiel, alerta e protetor, enquanto a daminha concentrada, mantinha-se em seu ofício de gestação.


Quis –e tentei- voltar para me aproximar deles, mas aí o instinto falou mais alto e o macho pôs-se a rosnar. Mais tarde no mesmo dia e em outras vezes voltei ao ninho, a pé ou de bicicleta, com ou sem câmera fotográfica para gravar suas imagens, mas não tive sorte. Ficou apenas a cândida memória daquele encontro casual...

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Natureza Morta?

Amante e amador de toda arte e suas modalidades, música e teatro, pintura e escultura, literatura, prosa ou poesia, dança, cinema e fotografia eu delirava, sempre, acerca da expressão “natureza morta”. Própria da pintura e também presente na fotografia expressa e expõe seres inanimados como flores e frutas ou objetos como vasos, garrafas e ânforas, entre outros.

Tradição milenar ganhou corpo no renascentismo enquadrando velas e caveiras para ilustrar os ciclos da natureza e, diria, a efemeridade de nossa existência. Qual devaneio, saber-se o homem um ser iludido de sua condição superior (?), sonhar controlar a natureza e capturar sua dinâmica em imagens lindas, mas latentes.

Tão desconectado este animal perdeu bastante as referências mais elementares e naturais que todos mamíferos -e, mais todos vertebrados e invertebrados, os insetos, as plantas e até os vírus, singelos como proteínas- conhecem seu lugar no bioma. Controlador acredita necessário sentir, pensar e agir pela sustentabilidade para preservar a natureza.

Levanta-te ó bípede! Acorda deste encantamento presunçoso. Não é a natureza, muito viva, que precisa ser preservada, mas a humanidade. Desde bilhão de anos atrás, todo ser vivo que “não entendeu” seu lugar, naturalmente falando, foi, é e será extinto. A natureza? Criação inesgotável se renova e encontra soluções diferentes e melhores.

Estamos em 5774 no calendário judaico, 4712 no calendário chinês, 2013 da era cristã e quase no fim de ano islâmico de 1434. Não importa a referência, olvidamos a lição ancestral como lembra anônimo provérbio oriental: “o que mais muda é o que mais fica” ou, se preferires, pode optar por ouvir Lavoisier quando decreta “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Se ainda não entendeu considere Darwin, ainda tão odiado por surdos-míopes, que tenta ainda hoje, incansável, por ordem na casa, simplificando, “nem a força, nem a inteligência, só os flexíveis prosperam”.

Confusos e inconformados em nossa divina semelhança, invertemos sentidos e valores. Até o caipira mais caboclo entende a serenidade paradoxal da expressão “mais muda, mais fica”. Nós, intelectuais sabidos repetimos o ditado popular cantando como Bon Jovi: 
       
        “The more things change, the more they stay the same”


Se fores ainda mais sabido poderá escolher sofrer no ditado original, em francês “plus ça change, plus c’est La même chose.” 

Meu palpite!? Onde todos veem sofrimento inclemente debaixo deste destino implacável, permita-se sentir o mantra universal vibrando a unicidade natural em você. Muito esotérico? Consulte o físico Fritjof Capra em seu best seller "O tao da física". 

Seja mais generoso com a natureza para, menos ressentido, poder descobrir a beleza e a “grandeza” de seres pó, para não se perder e que assim possa mais mudar e melhor ficar.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Conheça o Cândido Poliano

Eu, Hilário Delírio, gosto e pretendo continuar falando de amenidades. Se você quiser conversar sobre temas mais carrancudos e pragmáticos, visite o link do blog abaixo: 

Tanto aqui como lá, aguardamos sua adesão e seus comentários 

http://www.candidopoliano.blogspot.com.br 


quarta-feira, 26 de junho de 2013

A Pipoca não é vegetariana.

Ora direis que fiquei louco e que decerto estou absurdamente sem noção. Mas eu lhe asseguro e Bilac não há de me deixar mentir, não perdi o senso. A Pipoca não é vegetariana, mas ama uma alface bem tenra. Se você ainda resiste à minha afirmação terminativa é porque não conhece a Pipoca como eu. Branquinha, saltitante e muito gostosa, eu ratifico - Não, a Pipoca definitivamente não é vegetariana.

Ela é pura energia, mas toda semana, aos sábados dia de lavar a Pipoca, diante da água ela murcha, fica bem miudinha, a doce Pipoca. Já vistes Pipoca enxaguada? Coisa esquisita, desmilinguida parece um sabugo desbotado, vistes? Mas qual, sequinha ou não, todos que a pegam se encantam e fazem-se crianças. Imagine se já não viu marmanjos e marmanjas, manhosos e manhosas gemendo “ownnnnnn”, “que delícia”, “ah, eu também quero”.

A Pipoca? Maliciosa, poderosa e saborosa, sabe o quanto é querida, desdenha e esnoba, pula de um lado para outro pensando que tudo pode, e pode muito. Até a vovó que jurou jamais a aceitar se rendeu ao seu sabor, ela é quente e suave. Combina com tudo de bom, fica bem em qualquer programa da família, parece que não podemos viver sem ela.

Minha filha leva a Pipoca até a escola, minha esposa a leva no mercado. No Ibirapuera, parque e praia de paulistanos não podem faltar, sorvete, água de coco e a Pipoca. Nos parques e nas praças, todo pombo gosta de milho, certo? Da Pipoca não gostam não.

Tudo de bom acontece em torno dela. Exceção nos bares, farmácias, hospitais e restaurantes, nesses lugares não se leva a Pipoca. Na feira livre? Você sabe que na feira livre gostamos de caldo de cana com limão, pastel de pizza com manjericão, tapioca de montão, mas a Pipoca está sempre à mão.  Falando de comida de novo? Ah, João! Por isso tu és forte, oh inválido esboço de um muro adiposo que espalha tua grandeza, farra açodada e adoçada de lipídios mil. Toma tenência.

Opa. Upa. Ufa. (Saindo do transe ou, surto, gastronômico.) Esta é a vantagem (?) de se escrever através de seu álter ego, o diálogo entre louco e divertido ganha dimensões napoleônicas. Desculpe-me leitor, o desvario, é que por vezes meus neurônios não multiplicam sinapses, mas parecem se consumir, uns aos outros numa louca fagocitose. Entende? Nós obesos pensamos gordo.


Além da Pipoca gostamos muito do Pudim e da Paçoca, um macho e uma fêmea de psitacídeos, os outros animais da família. Nossa pequena cadela, a Pipoca, é uma maltesa linda e graciosa que se não é a mais esperta das espécies caninas, esforça-se ao limite para nos encantar e bajular. Sensível, protege a vovó. Arteira chama todos a brincar. Gulosa come de tudo e, embora prefira um naco de perdigão à boa ração, vegetariana ela não é não.  

terça-feira, 25 de junho de 2013

Ruivos do Vêneto encontram o eldorado entre rios de Caiapós.



Estimulado pela redação do texto “São Guerino do Dedo Verde” compartilhava impressões com um bom amigo quando lhe pedi que indicasse uma sugestão para uma nova narrativa. Gostou logo da ideia de variarmos sobre a origem de sua família.

A brincadeira ganhou fôlego e depois de uma consulta inicial às minhas fontes de pesquisa, vi que poderia extrapolar o material com diversas informações etimológicas e outras antropológicas. Umas dicas dele por aqui, uma foto antiga dos ‘nonos’ ali e muita investigação na web me permitiram elaborar este ensaio.

No rico e desenvolvido norte da Itália, no Nordeste neste caso mais específico, está situada a região do Vêneto, cuja capital Veneza é romântica e mundialmente conhecida. Estão lá outras Províncias bem conhecidas mas, um pouco mais para o campo, não tão longe do Adriático está a Província de Rovigo, origem do ramo paterno quase no meio do caminho entre Padova e Bologna, terra dos pais de sua progenitora. Poderíamos mesmo dizer que eram tutti paesano, vizinhos mesmo. 

Se do lado materno, os Galvani remetem à memória do muito importante cientista Luigi Galvani, cujas descobertas viabilizaram mais tarde a invenção da pilha e grande desenvolvimento e aplicação da eletricidade. Do lado paterno os Rossin, hipocorístico (modo suave e gentil) de Rossi, têm origem semelhante, como Rossini também. Rossini, Rossin ou simplesmente Rossi são derivações de “rosso” que no italiano significa vermelho, indicativo do cabelo avermelhado muito peculiar dos ruivos.

Ocorre que no fim do Século XIX, um pouco para se livrarem dos frequentes e recorrentes conflitos com o Império Austro-Húngaro que, muito provável, calcinou a economia do lugar e; Considerando a concomitante nova terra de oportunidades que o interior paulista se revelava e com o virtual eldorado para as pessoas idealistas e empreendedoras em perspectiva, lançaram-se ao mar para construir seu futuro, próximo de um rio preto. Região antes conhecida por seus moradores nativos, os índios Caiapós, como 'entre rios' uma área que, mais tarde, seria denominada como Ribeirão Preto.

Chegaram por lá, quase ao mesmo tempo em que o Dr. Henrique Dumont, engenheiro mineiro, pai de Alberto Santos Dumont por ali se estabelecia. Hilário, eu delirei imaginando o então jovem Abramo Rossin, franciscano imigrante italiano proseando com o adolescente e visionário filho do fazendeiro, enquanto ensinava o seu menino a fazer pipas e balões, inspirando de soslaio o futuro pai da aviação.

Franciscano devoto emprestou a um dos filhos os nomes dos dois baluartes do franciscanismo. O do próprio fundador da Ordem e o nome do Frei português que, contemporâneo e amigo do Francisco de Assis, foi canonizado como Santo Antônio. Viveu com entusiasmo em seu cantinho de chão, em Sertãozinho cercado de árvores próprias da região e que, dizem, de uma espécie de fruta que só existe no Brasil, a Jabuticaba tão apreciada pelos Caiapós.

A inflação é uma droga.



Os brasileiros muito jovens se não se lembram, os mais velhos sempre os fazem saber que houve um tempo neste país em que o poder aquisitivo era muito alterado para menos em razão de horas. Uma visita aos mercados um ou dois dias depois do planejado representava uma evidente e substancial menor quantidade de produtos nos carrinhos.

Clássica e jocosamente, economistas e jornalistas referem-se à inflação como um dragão. Quimera mítica capaz de consumir e destruir tudo que lhe atravessasse a frente, crescendo de modo incontrolável.

Quase vinte anos depois, o dragão virou uma droga. Bom, pelo menos é como fazem parecer nossas autoridades monetárias, viciadas em gastos públicos e dependentes de uma ideologia esquizofrênica. Sonham um socialismo romântico e, abominando o liberalismo, constrangidas mal disfarçam a privatização, apenas mudando o nome “concessão”. 

As drogas, especialmente aquelas que alucinam, exercem um efeito comum e devastador sobre seus dependentes. Além do torpor e da letargia, oferecem tanto prazer que, diante da realidade incontornável e insuportável, todos seus usuários têm convicção de que exercem absoluto controle sobre elas e acreditam que podem se abster, a qualquer tempo natural, cândida e espontaneamente. Depois da alegoria, veem-se depauperados, corroídos e desestruturados pelo monstro, droga ou dragão, desesperados por mais uma dose de euforia. 

Passados estes tantos anos a lenda do dragão parece uma fábula ancestral de tempos longínquos, irreal e surreal. A ausência de retrospectiva promove uma psicodélica perspectiva de que o bicho não passa de uma lagartixa, inofensiva. Aqueles que pretensamente pensam poder controlar a inflação revelam-se como dependentes desta droga econômica e social que consome povos e nações.

Poderiam, ou deveriam fazer como os Alcoólicos Anônimos que celebram cada dia de abstinência como mais uma pequena vitória e independência, mantendo e renovando sempre os fundamentos que viabilizaram a estabilidade dentro de metas objetivas e necessárias. Cada dia deve representar a coerência, às vezes impopular do exercício da razão, lembrando Renato Russo que há tempos já ensinava – Disciplina é liberdade... Mas esse é o caro e antipático preço da liberdade, a coerência madura e responsável. 

Ah, mas é tão sedutora a ilusão da popularidade que inebria até o mais pragmático dos burocratas tornando-o narcisista e populista, causa e efeito deste delirium tremens econômico que mascara resultados e sonha índices que não apontam, mas acusam sua inépcia.

Eis-nos mais uma vez diante deste nauseante círculo vicioso, dependentes cada vez mais quanto mais altivos e seguros, na certeza insofismável de nosso poder incondicional sobre o dragão, deliramos. Inflação, droga ou dragão, a certeza é a submissão.